sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Guia Básico de Cinema Capítulo IV



Hoje é sexta-feira, final de semana se aproximando e eu escrevendo. Isso quer dizer que você já sabe o que vai acontecer certo?

Bem, é claro que você sabe, afinal não é cego e leu o título da postagem aí em cima. Como tenho feito há 4 sextas, hoje é dia de post sobre cinema. Continuando meu Guia Básico de 100 filmes, vou abordar 5 filmes muito importantes, e esses tenho certeza que se encontram em qualquer lista dos 100 maiores ou melhores de todos os tempos.

Já adianto que vai ficar bem heterogênea, mas em algum momento eu teria que abordar essas obras. 

Só vou fazer agora porque minha esposa me encheu muito para falar do 1º dos 5 filmes de hoje.

São eles:



E o Vento Levou – Gone With the Wind (George Cukor/Victor Fleming 1939) 

Clássico supremo e o filme favorito de muita gente.

Baseado no livro homônimo de Margaret Mitchell é ambientado no sul dos Estados Unidos (Georgia) e tem como pano de fundo a Guerra da Secessão (1861-1865) e suas consequências para os sulistas.

A estória gira basicamente em torno de 4 personagens: a mimada filha da aristocracia sulista  Scarlett O’Hara (Vivien Leigh), o aventureiro galanteador Rhett Butler (Clark Gable), a bondosa e compreensiva Melanie Wilkes (Olivia de Havilland) e seu marido e paixão adolescente de Scarlett, o insosso e bobalhão Ashley Wilkes (Leslie Howard).

O filme conta como uma menina mimada e insuportável tem que se moldar em uma mulher forte e obstinada devido às constantes dificuldades e transformações que sua vida atravessa devido aos horrores da guerra e suas dramáticas consequências.     

Para isso ela vai precisar de toda sua força e perspicácia para contornar as adversidades, fazendo todo o necessário para cuidar dela e de sua família, e ainda por cima conseguir conciliar suas paixões por Ashley e Rhett.

Para quem não assistiu o filme, não se engane. Não é um dramalhão ou romance açucarado. Nada poderia estar mais longe da realidade, pois é um filme fantástico, sem palhaçada alguma.

Na primeira parte mostra o desenrolar da guerra e a prosperidade sulista, retratando o sul como uma terra de cavalheiros educados e doces donzelas.

Na segunda parte do filme, o pós guerra se apresenta com destruição, pobreza e fome, retratando os Ianques e os ex-escravos sulistas como abutres aproveitadores da desgraça alheia.

Ele tem também algumas das cenas mais memoráveis do cinema, sem contar com os diálogos sensacionais. O último deve ser o melhor de todos os tempos.

Algumas curiosidades sobre o filme:

Embora seja creditada a direção a Victor Fleming (o mesmo de O Mágico de Oz), ele dirigiu apenas 45% do filme. O diretor que iniciou o trabalho foi George Cukor, que foi demitido por pressão de Clark Gable, pois Cukor o deixava intimidado;

A atriz Vivien Leigh, que interpreta a sulista Scarlett O’Hara, era na verdade de origem inglesa (nascida na India, colônia da Inglaterra até 1947), e era casada com o ator inglês Laurence Olivier (considerado por muitos que entendem mesmo do assunto como um dos, senão o maior, ator de todos os tempos);

A atriz Hattie McDaniel, que interpretou a carismática empregada Mammy da fazenda Tara, foi a primeira negra a ganhar um Oscar (melhor atriz coadjuvante), e foi também a primeira negra a participar da cerimônia de premiação do Oscar como convidada;

E o Vento Levou foi premiado com 10 Oscar, empatando com Amor Sublime Amor (West Side Story ) e ficando atrás de Bem-Hur, Titanic (Argh!) e O Retorno do Rei, cada um com 11 Oscar;

E o Vento Levou é também o 2º filme de exibição em circuito cinematográfico mais longo da história do cinema com 238 minutos, perdendo apenas para Cleópatra com 243.



Cidadão Kane – Citzen Kane (Orson Wells 1941)

Ironicamente, o filme que consagrou foi o mesmo que praticamente destruiu a carreira de Orson Wells. 

Até muito recentemente Cidadão Kane encabeçava todas as listas dos maiores filmes de todos os tempos. Isso até alguns meses atrás, quando, em nova votação foi superado por Um Corpo que Cai (Vertigo) de Alfred Hitchcock, o que para mim é um completo absurdo, visto que, no meu entender o próprio Hitchcock tem filmes melhores que Um Corpo que Cai. 

Cidadão Kane conta a história de Charles Foster Kane, que parece ter sido inspirada claramente na história de William Randolph Hearst, magnata da imprensa e dono de várias publicações conhecidas como The New York Journal e a revista Cosmopolitan. Esse fato ajudou com que Welles nunca mais fosse contratado como diretor por um grande estúdio.

No filme, Kane é um menino pobre que se torna um magnata das comunicações. Sua história é contada em flashbacks, já que um repórter entrevista várias pessoas importantes na vida de Kane para tentar descobrir o significado da última palavra que Kane pronuncia antes de morrer: Rosebud.

Porém, nenhuma dessas pessoas que conviveram de maneira tão próxima a Kane tem a menor ideia do que ele quis dizer com Rosebud.

Esse é um filme muito interessante e também muito inovador no sentido de técnicas de filmagem porque nunca tinham sido usadas até então. Entendo que esse é um dos motivos que fizeram a fama de Cidadão Kane.

A estória é muito boa também e a maneira como foi contada, em flashbacks, não era muito comum na época.

É um filme obrigatório para qualquer um que queira entender minimamente de cinema.

Ah, só um detalhe. Você vai ter que assistir o filme até o fim para saber o que ou quem é Rosebud, pois o mistério só é revelado no último take da última cena do filme.



O Encouraçado Potemkin – Bronenosets Potyomkin (Sergei Eisenstein 1925)

Muitos críticos se dividem entre O Encouraçado Potemkin e Cidadão Kane ao afirmar qual era o maior de todos os tempos.

Parece inacreditável que um filme de quase 100 anos atrás, e mudo ainda por cima, tenha tamanho prestígio. Mas o fato é que tem mesmo e também méritos para isso, não lhe faltam.

Concebido como filme de propaganda revolucionária comunista (sem ser panfletário), baseado em fatos reais, foi feito para comemorar a revolução de 1905 (a revolta dos marinheiros no porto de Odessa) onde os marinheiros de um navio do czar – o Potemkin - se amotinaram depois de serem obrigados a comer carne em avançado estado de putrefação, entre outros tantos mal tratos sofridos.

Após tomarem o controle do navio, os marinheiros rumam para a cidade portuária de Odessa, onde a população apoia a revolta. 

Esse também é um filme com duas realidades bem definidas. No início cenas de alegria com muita luz que são substituídas por cenas chocantes de extrema violência.

A guarda do czar esmaga com violência desmedida a revolta, o que culmina na antológica cena da escadaria do porto de Odessa, que é bombardeada pelo Potemkin, assim que os marinheiros avistam o que acontece na cidade.

É realmente um filme impressionante onde Eisenstien, um precursor dos efeitos especiais, usou vários contrastes e técnicas de corte e montagem, usados ainda hoje, principalmente em filmes experimentais.

Diria que hoje, por ser tão antigo e mudo, é um filme indicado apenas para quem gosta muito de cinema ou quer ir a fundo no assunto.
 


M, O Vampiro de Dusseldorf – M (Fritz Lang 1931)

Considerado o 1º grande filme da cinemateca alemã e também um dos primeiros falados, M, O Vampiro de Dusseldorf conta a estória de um infanticida que está aterrorizando a cidade. 

A busca do assassino por parte da polícia é tão intensa e ostensiva que até a criminalidade local começa a caçar o bandido, pois seus negócios estão sendo muito prejudicados. 

Por fim o assassino cai nas mãos dos criminosos que formam então um tribunal para julgá-lo e executar a sentença. Aqui, a ironia de um assassino sendo julgado por outros assassinos.

O filme foi baseado em um caso verídico do serial killer Peter Kuerten, na mesma cidade de Dusseldorf. O assassino real porém não matava crianças.

O diretor Fritz Lang utilizou muito bem um jogo de sombras e escuridão, mesclado com personagens misteriosos para criar um clima aterrorizante.

Outra coisa interessante é que descobrimos o culpado apenas na segunda metade do filme.

A cena do julgamento do facínora é magistral. A interpretação soberba de Peter Lorre como o assassino é magnífica.

Imagine que mais de 8 décadas depois, M, O Vampiro de Duisseldorf, ainda continua impressionante.


Lawrence da Arábia – Lawrence of Arabia (David Lean 1962)

Ganhador de 7 Oscar, Lawrence da Arábia conta a história, baseada na biografia de T.E. Lawrence Os Sete Pilares da Sabedoria.

Durante a 1ª Guerra Mundial, Lawrence (Peter O’Toole), um jovem tenente do exército britânico estacionado no Cairo, é designado como oficial de ligação na península arábica, entre os rebeldes árabes e o exército britânico, que lutava contra os turcos.

Uma coisa muito interessante nesse grande filme é que a personalidade enigmática e a excentricidade de Lawrence vão fazendo com que ele pouco a pouco vá sendo envolvido nos costumes e na causa das tribos árabes, chegando a vestir-se e viver como beduíno, tendo sob seu comando um enorme exército formado por integrantes de tribos rivais, mas que lutavam por ele.

A história é fantástica e a fotografia é belíssima. A longa tomada de quando Lawrence está no meio do deserto esperando seu guia é magnífica. Praticamente não se fazem mais long shots hoje em dia no cinema. 

Outra cena marcante é quando ele tira suas roupas de beduíno, que se acostumou a usar, e se depara em frente a um espelho com toda sua brancura anglo-saxônica, relembrando quem é na verdade. 

Sem contar questões morais complexas que vão aparecendo no decorrer do filme, como a que ele deve decidir sobre a vida ou morte de um homem a quem havia salvado a vida anteriormente.

Enfim, é um filme magnífico, extremamente complexo e que deve obrigatoriamente ser assistido por qualquer pessoa que queira ver um filme de verdade, frente a esse mar de mediocridade e besteirol de hoje em dia.

É isso aí. Espero que alguém tenha interesse em assistir pelo menos um desses filmes.

Sexta-feira que vem tem mais.