quarta-feira, 10 de abril de 2013

Coréias em Guerra?

O assunto do momento na imprensa internacional é uma possível guerra na península coreana entre Coréia do Norte contra a Coréia do Sul e seus aliados EUA e Japão. Hoje mesmo, 10/04/2013, os norte-coreanos ameaçaram acabar com o Japão.

Existe, afinal de contas um risco assim tão grande de um conflito armado ou é tudo encenação do ditador norte-coreano Kim Jong-un? 

Uma coisa é certa. Toda essa situação é perfeita para a imprensa dar uma faturada, certo? Portanto devemos dar menos ouvidos à imprensa e estarmos mais atentos ao histórico da coisa e à quem sabe mesmo do assunto, pois tenho lido e assitido uma quantidade imensa de bobagens a respeito. 

Não sou especialista em política externa, militar nem nada, mas gosto de me manter bem informado. Já acompanho essa questão da Coréia do Norte faz um tempo e busco informações em outras fontes que não as agências de notícias oficiais. 

Antes de mais nada, um resumo para que se entenda a situação na península coreana:

1 - 1945: Até o fim da 2ª Guerra Mundial, existia apenas um país chamado Coréia. Com o final da guerra, o país foi dividido em 2 zonas de ocupação, sendo a região norte, sob a ocupação da União Siviética e a região sul sob ocupação dos EUA. Em 1948 são criados os 2 novos estados, Coréia do Norte e Coréia do Sul, na altura do paralelo 38.

2 - 1950: Após a saída das tropas americans e soviéticas da península (1948-1949), a Coréia do Norte, simulando jogos de guerra e exercícios militares, ultrapassa o paralelo 38 e invade a Coréia do Sul,  praticamente inteira e de maneira muito rápida. Com quase a totalidade de seu território tomado pelos comunistas, a Coréia do Sul pede socorro à ONU, que pede aos EUA para interceder. Os americanos mandam para resolver o problema seu comandante mais respeitado, o General Douglas MacArthur, que adotando uma estratégia extrememente ousada, expulsa os invasores, os empurrando de volta até o limite do paralelo 38, libertando assim a Coréia do Sul. Durante o conflito a China entrou na guerra ao lado da Coréia do Norte. Durante os 3 anos da guerra, 3,5 milhões de civis foram mortos.

3 - 1953: Um armistício suspendendo os combates foi assinado, criando uma zona desmilitarizada justamente na altura do paralelo 38. O acordo de cessar-fogo, no entanto, não significou um tratado de paz, mantendo o clima de tensão entre os 2 países desde então. Técnicamente as duas Coréias nunca deixaram de estar em guerra, apenas não há o conflito armado.

4 - 1993: A Coréia do Norte começa seu desenvolvimento de armas nucleares sem permissão, debaixo do nariz do presidente americano de turno, o democrata bobalhão Bill Clinton. Durante os anos de sua administração (1993-2001), Clinton desistiu várias vezes de realizar exercícios militares em conjunto com seus aliados sul-coreanos, por pressão e ameaças do ditador Kim Jong-Il. 

5 - 2003: Abril. A Coréia do Norte afirma que possui armas nucleares.

6 - 2007: Fevereiro. As duas Coréias, EUA, Rússia, Japão e China assinam um acordo para fechar as instalações nucleares norte-coreanas, em troca de ajuda energética e econômica.

7 - 2007: Outubro: Os líderes das duas Coréias assinam uma Declaração de Paz para a desnuclearização.

8 - 2006: Outubro. A Coréia do Norte realiza seu 1º teste nuclear, com uma bomba com uma força menor do que 1 quiloton (cada quiloton representa 1.000 toneladas de dinamite).

9 - 2009: Maio. A Coréia do Norte realiza seu 2º teste nuclear, dessa vez com uma bomba com força entre 2 e 8 quilotons.

10 - 2013: Fevereiro. A Coréia do Norte realiza seu 3º teste nuclear. A bomba tinha entre 6 e 7 quilotons. 
 
11 - 2013: Março. A Coréia do Norte anula unilateralmente o pacto de não agressão, cortando também a linha direta de comunicação com Washington e Seul. 

Com a realização de exercícios militares dos exércitos da Coréia do Sul e dos EUA, bem como as sanções impostas ao país após a realização de seu 3º teste nuclear, a Coréia do Norte está falando grosso e ameaçando como sempre faz. Alguns analistas e jornalistas afirmam que dessa vez o tom das ameaças subiu, tanto é que ambos os países da península coreana se encontram em estado de alerta máximo.

Certo. Mas afinal de contas, o que quer o ditadorzinho norte-coreano? Aí existem várias possibilidades. Alguns entendem que, como seu maior espectador é seu povo, ele estaria agindo assim para impressionar tanto a população, como os militares que não botam muita fé nele, já que até a morte de seu pai, Kim Jong-Il, ele não havia feito nada a não ser subir rapidamente as carreiras do exército, algo nunca visto com bons olhos por militares de verdade.

Outra alternativa é a de que esteja precisando de dinheiro, só para variar. Seria um sistema simples de extorsão, que já foi efetivo algumas vezes, mas agora os extorquidos resolveram responder na mesma moeda. Como todo país comunista e fechado, a Coréia do Norte é um lugar miserável com uma economia praticamente inexistente. Seu PIB de 2011 foi de ridículos U$ 12,4 bilhões de dólares. A Coréia do Sul, um dos países mais desenvolvidos do mundo teve U$ 1,12 trilhão, a colocando como a 13ª economia mundial. Só para ilustrar, o PIB brasileiro do mesmo período foi de U$ 2,48 trilhões.

Uma imagem vale mais do que mil palavras, certo? Veja a foto abaixo:

Divulgação/Nasa/GFSC/AFP
 
É uma foto de satélite que mostra a península coreana durante a noite. Veja a disparidade entre o sul, todo iluminado e o norte, com um ponto de luz somete ao redor da capital Pyongyang. Isso diz muita coisa.

A Coréia do Norte depende quase que exclusivamente da ajuda de seu amigo rico, a China. Mas ela, ironicamente, sobrevive também graças a ajuda de sua maior inimiga, a Coréia do Sul, que juntamente com a China é o maior doador de alimentos para os norte-coreanos.

Mas afinal, existe ou não a possibilidade de guerra?

Como escrevi anteriormente, não sou especialista em relações internacionais, mas aposto que não vai haver guerra nenhuma.

Vejamos:

Existem 2 possibilidades de guerra a serem deflagradas pelos norte-coreanos. Uma guerra convencional ou nuclear.

Em 1º lugar, analisemos a hipótese de guerra convencional 

Todos sabem que a Coréia do Norte tem um grande efetivo e um grande arsenal. Acontece que seus equipamentos e tecnologia estão muito defasados, pois, como foi demonstrado claramente, mesmo destinando grande parte do seu PIB para a área militar não daria para fazer muita coisa, já que seu PIB é muito pequeno, sendo praticamente metade do PIB do Paraguai. Por outro lado, a Coréia do Sul também investe pesado em áeras militares, tendo muito mais possibilidade de desenvolvimento tecnológico. E mais, sendo aliado dos EUA, o país tem acesso à equipamentos, treinamento e tecnologia americanos. 

De qualquer forma, a Coréia do Norte precisaria do apoio chinês. Ocorre que mesmo a China não tem nenhum interesse nesse conflito ou em outra coisa que possa desestabilizar a região. Além do mais, a China também condenou a atitude norte-coreana e não aceita o descumprimento das resoluções da ONU. Outro ator nesse cenário seria a Rússia, que também tem se mantido distante e, provavelmente, também não entraria nessa, pois, sabe que é uma causa perdida. Nesse caso, a Coréia do Norte teria que ecarar a do Sul sozinha. Mas, ao contrário de 1950, os sul-coreanos estão muito bem preparados e armados, tendo totais condições de vencer sozinhos uma guerra convencional contra seus vizinhos do norte. Isso não quer dizer que tal fato não seria desastroso também para a Coréia do Sul, pois um bombardeio, mesmo que com armas tradicionais, poderia afetar seriamente sua economia, destruindo seu parque industrail que fica quase todo ao redor de Seul, que fica a 200 km de Pyongyang e apenas 40 km da zona desmilitarizada.

Guerra nuclear.

E se a coisa progredir para a solução nuclear? Aí, provavelmente os EUA devem entrar na jogada. Estimativas mostram que a Coréia do Norte possui algo em torno de 10 artefatos nucleares. Os EUA tem 7.700. O caso, é que as bombas nucleares da Coréia do Norte são estacionárias. Eles não tem tecnologia para dispará-las em foguetes ou mísseis. Fica então a hipótese de que para explodir a Coréia do Sul, a Coréia do Norte deve se explodir também. 

Deve-se acreditar nesse caso em uma pronta resposta americana, também nuclear. Sendo assim, os EUA teriam imensa facilidade em simplesmente varrer a Coréia do Norte do mapa, pois, para se ter uma ideia, apenas uma das máquinas de guerra americana, os submarinos da classe Ohio, tem capacidade para transportar e disparar 24 mísseis nucleares, cada um deles com 8 ogivas nucleares tele-guiadas, o que seria mais que suficiente para transformar em pó as 5 maiores e mais importantes cidades norte-coreanas. Isso sem contar com os porta-aviões classe Nimitz, capazes de transportar 90 aeronaves de combate. Existem 10 desses. E isso é só a Marinha.

Me diga quem pode se opor à tamanho poderio militar?

Ingresso da China e Rússia em uma guerra nuclear contra os EUA e a favor da Coréia do Norte? Para que? Quem ganha com isso? Pouco provável.

Por essas razões que acho pouco provável uma guerra na região. Se eu sei das informações acima, que dirá os líderes norte-coreanos.

O problema é que seu principal líder, Kim Jong-un não é um ser humano normal, mas um palhaço delirante que vive totalmente fora da realidade. O povo norte-coreano, totalmente cerceado de informações e alheio ao que ocorre no mundo, acha que, em caso de guerra, seriam vencedores.

Minha opinião é a de que não haverá guerra, mas a maioria das guerras foi originada por acidentes, erros de cálculos ou de percepção.

Vamos ver o que acontece na sequência.

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