Semana passada li um artigo sensacional
e muito bem escrito no UOL (o que é uma raridade em se tratando desses portais
de internet), sobre os 20 anos do Hollywood Rock 93, que é considerada uma
edição histórica do festival.
Hollywood Rock Logo |
Se você nunca se interessou pelo
assunto ou era muito novo e não se lembra de nada, o Hollywood Rock foi um
festival de Rock que aconteceu entre 1988 e 1996 (excetuando os anos de 1989 e
1991), sendo sempre realizado nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro com os
mesmos artistas tocando em ambas as cidades.
O que, segundo o artigo, tornou o
de 93 tão emblemático foi o fato de que pela 1ª vez no cenário nacional, nomes
que estavam no auge da carreira tocaram aqui. Tanto é assim que os shows nas
duas cidades tiveram todos os ingressos esgotados. É claro que já havia tido
outros shows incríveis com nomes internacionais como o Rock in Rio original,
mas eram artistas com vários anos de estrada e que não estavam exatamente no
auge da fama na época.
Ainda, de acordo com o artigo,
outro fator importante dessa edição do festival foram os nomes que se
apresentaram, como Red Hot Chilli Peppers, Alice in Chains L7 e Nirvana. Aqui
chegamos ao cerne da questão, pois nessas apresentações o Nirvana deu um show a
parte. Ou um perfeito papelão, depende de sua análise. Parece que o falecido
Kurt Cobain estava entupido de drogas e álcool e fez tudo errado. Não conseguia
tocar nada direito e ainda por cima cuspiu em todas as câmeras que encontrou (a
Globo transmitiu ao vivo o show de São Paulo). Hoje, essa apresentação do
Nirvana é considerada como um marco da rebeldia por uns e um lixo total por
outros. Se quiser saber mais clique no link e confira a
belíssima reportagem de Mariana Tramontina com muito mais detalhes.
“Mas para que tudo isso? Por um acaso você é fã desses caras?” Você
deve estar se perguntando.
Na verdade não só não sou fã,
como acho o som de todos os acima citados muito ruim, o que acontece aqui é
outra coisa.
Achei o artigo que cito acima
muito interessante, o que me levou a observar 2 coisas distintas e sem nenhuma
relação entre si, mas que me vieram a mente assim que terminei de lê-lo:
- Outro dia, estava discutindo com um primo e
ele me contava que havia chegado à conclusão de que o Nirvana, U2 e The Doors
eram as bandas mais superestimadas de todos os tempos, o que concordo
plenamente.
Desses 3, quero falar justamente
do Nirvana. Nunca vi e não entendo até hoje, como uma bandinha tão ordinária
como essa tem toda uma mística em torno de si. Para mim, que era adolescente na
época, era o típico muito barulho por nada. Os caras não eram grandes músicos e
as músicas não eram grande coisa. Não me entra na cabeça como esses caras são
idolatrados até hoje. E, às vezes, colocados lado a lado com nomes realmente
importantes. Acho que é típico caso de quando morre o front man do grupo e,
instantaneamente, o cara, que até então era só mais um rockeiro drogado
meia-boca, passa a condição de semi-deus e a banda passa a ser cult. Uma
bobagem sem tamanho. O pior é que esse caso não é nem original. Já aconteceu
antes. Quantos casos de nomes famosos que ganharam muito mais notoriedade e dimensão depois que morreram?
- Depois de ler sobre o Hollywood Rock,
imediatamente me lembrei de outro festival de música muito mais interessante e
que também tinha, tanto no nome como no patrocínio uma marca de cigarro: o Free
Jazz Festival.
Free Jazz Festival Logo |
O Free Jazz não tem relação com o
estilo Free Jazz (estilo de Jazz oriundo do Bebop, que propunha maior liberdade
e capacidade de improvisação dos músicos e que teve como um dos adeptos John
Coltrane), mas sim com a marca de cigarros patrocinadora. Foi realizado
ininterruptamente entre 1985 e 2001.
Apesar de ter Jazz no nome, o
festival sempre trouxe artistas de outras correntes. Mesmo assim não foram
poucos os artistas do Jazz que chegaram a se apresentar por aqui, inclusive
vários consagrados como Sonny Rollins, Chet Baker, Wynton Marsalis, Ron Carter,
Sarah Vaughan entre outros.
O Jazz não é um ritmo muito
difundido e nem muito apreciado pelo brasileiro, tornando assim o Free Jazz
ainda mais importante, pois era uma chance de assistir vários grandes artistas
reunidos em um único local.
O Free Jazz esteve uma única vez
aqui em Curitiba. Foi em 1998. Me lembro de ter ido com meu irmão e mais 2
amigos que também são apreciadores. Nosso único interesse nessa ocasião era ver
ao vivo o lendário saxofonista Wayne Shorter. Nessa mesma noite, se apresentou
no mesmo local Ben Harper. A apresentação de Wayne Shorter foi antes da do
Ben Harper, e como era em teatro com lugares marcados, um monte de gente chegou
apenas para assistir o show de Ben Harper, ignorando solenemente Wayne Shorter,
acredita?! Nós, ao contrário, fomos embora assim que Ben Harper subiu ao palco.
Foi uma única vez, mas valeu. Depois o Free Jazz não retornou mais a Curitiba
e 3 anos depois não retornou mais a lugar algum.
Em janeiro de 2003 entrou em
vigor uma lei antitabagismo estúpida, proibindo que empresas de tabaco
patrocinassem eventos culturais. O que acharam? Que só porque alguém ia ao
Hollywood Rock ou ao Free Jazz, ia sair dali um fumante inveterado?
Não sou fumante nem defensor do
cigarro, mas achar que a simples exposição das pessoas à marca vai
influenciá-las a consumir o produto é uma estupidez. Se fosse assim todo mundo
passava o dia bebendo Coca-Cola.
Enfim, só acho isso tudo uma
pena, pois quem sabe quantos outros eventos ou artistas interessantes poderiam
ter vindo antes para cá?
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