Outro dia meu irmão e minha
cunhada reclamaram comigo que a maioria dos filmes que apresento no Guia Básico
são antigos. Respondo que isso é óbvio, pois a maioria disparada dos grandes
filmes é composta por filmes antigos. Mas como sou um cara legal, resolvi
dedicar um ou alguns posts à filmes mais recentes. Começo listando 5 ótimas
produções dos anos 90:
O Poderoso Chefão Parte III – The Godfather Part III (Francis Ford
Coppola - 1990)
Tentando finalmente colocar os
negócios de sua família dentro da lei, Michael Corleone (Al Pacino) descobre
que quanto mais ele se afasta do seu passado criminoso, mais ele é levado a ele
novamente. Ambientado em 1979, Michael se envolve inclusive com negócios
escusos do Vaticano ao mesmo tempo em que pretende se livrar definitivamente de
seus antigos sócios. Ocorre que, após um atentado contra sua vida, do qual
escapa ileso, ele quase morre devido a um coma por causa de seu problema
crônico de diabetes. Após se recuperar superficialmente de sua doença, Michael
entende que precisa se afastar definitivamente do crime, mas para isso vai
precisar da ajuda de Vincent Mancini (Andy Garcia), seu sobrinho violento e
impulsivo que fará qualquer coisa para auxiliar o tio e se tornar o novo capo.
Esse é o filme que encerra a saga
da família Corleone. Inicialmente Francis Ford Coppola não tinha nenhuma
intenção de lançar um terceiro filme, mas algo o fez mudar de ideia e ele e
Mario Puzzo, autor do livro original, escreveram o roteiro para o último
capítulo da saga.
O filme não alcançou o mesmo
sucesso de público e crítica que seus antecessores. Na realidade ele não está no nível dos anteriores, mas poucos estão. Mas é um ótimo filme e que foi
indicado ao Oscar em 7 categorias. Não levou nenhum, mas nesse ano a
concorrência estava extremamente forte, com Dança com Lobos e Os Bons
Companheiros.
Sugiro que seja assistido por
todos que assistiram os anteriores. Para o bem ou para o mal é um ponto final
em uma das estórias mais interessantes e marcantes do cinema.
Cabo do Medo – Cape Fear (Martin Scorsese - 1991)
Cabo do Medo é uma refilmagem de
Círculo do Medo de 1962, esse estrelado por Gregory Peck e Roberto Mitchum que
inclusive fazem uma participação especial aqui. O filme conta a estória de Sam
Bowden (Nick Nolte) um advogado que há 14 anos defendeu o estuprador psicótico
Max Cady (Robert De Niro). Aparentemente Bowden não se esforçou muito na tarefa
e Cady acabou condenado. Agora ele localizou Bowden e vai transformar a vida
dele e de sua família um inferno antes de executar sua vingança.
Além dos talentos de De Niro e
Nolte, o filme conta ainda com ótimas atuações de Jessica Lange, como Leigh Bowden,
esposa de Sam e Juliette Lewis como sua filha adolescente Danielle.
Repetir que Martin Scorsese é um
mestre e um dos melhores diretores de todos os tempos é chover no molhado, mas
o fato é que Cabo do Medo vai se tornando cada vez mais tenso e claustrofóbico à
medida que se desenrola. E isso é mérito total do diretor. Algumas cenas são um
tanto quanto forçadas, como a surra que Cady leva dos capangas contratados, mas
isso não desmerece o longa em absolutamente nada. Certamente é um clássico
moderno do suspense e mais uma prova de que a dupla Scorsese-De Niro consegue
sempre resultados extraordinários.
Cães de Aluguel – Reservoir Dogs (Quentin Tarantino - 1992)
Seis criminosos que não se
conhecem são contratados por um chefe do crime local para roubar uma joalheria.
Ao invés de usarem seus nomes reais, eles recebem apelidos para que não se
conheçam e foquem exclusivamente no trabalho. Durante o roubo a polícia aparece
bem na hora e, durante o tiroteio um dos criminosos é morto. O restante do
bando, ao voltar para o local de encontro começa a discutir o que saiu errado e
surge a suspeita de que um dos envolvidos é um policial infiltrado.
Primeiro longa de Quentin
Tarantino e considerado por muitos como seu melhor trabalho. Não acho. A filmografia
de Tarantino tem filmes espetaculares e outros nem tanto, sendo muito difícil
apontar o melhor. Cães de Aluguel certamente está entre os melhores.
Cães de Aluguel é a gênese de seu
estilo e modo de fazer cinema. Aqui todos os elementos que caracterizam sua
obra estão presentes. Diálogos sensacionais, muita violência e grandes doses de
humor.
Os diálogos como sempre são demais,
como o em que o chefão Joe Cabot distribui os codinomes aos participantes. Ele
determinou que todos usarão nomes de cores, como por exemplo Mr. Brown, Mr.
Orange e assim por diante, mas deixa claro que não haverá nenhum Mr. Black,
pois é o nome mais legal e todos iriam brigar para ser o Mr. Black. Ou então
aquele em ficam fazendo considerações sobre a história real por trás da música
Like a Virgin da Madonna. Genial!
Se ainda não viu não perca mais
tempo. O final é desconcertante.
Dead Man – Dead Man
(Jim Jarmusch - 1995)
Escrito e dirigido por Jim
Jarmusch, Dead Man conta a estória de William Blake (Johnny Depp), um contador
que, em algum momento da 2ª metade do século 19, depois de matar um homem
precisa fugir. Em sua fuga ele se depara com o índio Nobody (Gary Farmer) que
acredita que ele é de fato o poeta inglês William Blake, morto em 1827. Durante
sua fuga, Blake inicia uma jornada tanto física como espiritual em um terreno
totalmente estranho a ele. Com a ajuda de Nobody (isso mesmo o nome do índio é
ninguém em inglês) ele se aventura por situações tanto cômicas como violentas. Jogado
em um mundo cruel e caótico ele finalmente abre seus olhos para a fragilidade
que sua existência.
Os filmes de Jim Jarmusch sempre são
estranhos e meio malucos. Aqui não é diferente. Dead Man é o western mais
improvável já feito. Para começar foi rodado totalmente em preto e branco. As situações
são totalmente bizarras, mas também com boa dose de humor, como na que Blake
encontra alguns malfeitores acampados a noite. É uma situação de claro perigo,
mas mesmo assim ele resolve se aproximar. Quando chega perto do grupo, esses
perguntam com quem ele viaja, e ele responde que viaja com Ninguém “I travel
with Nobody”, se referindo aqui ao nome do índio, seu companheiro. A cena em
que ele comete o homicídio é belíssima, com uma crueza e simplicidade
brilhantes. Não é um filme fácil, mas é certamente uma obra inesquecível. Outro
ponto alto é a trilha sonora composta e executada inteiramente por Neil Young.
Fargo – Uma Comédia de Erros – Fargo (Joel Coen e Ethan Coen - 1996)
Fargo é uma comédia de humor
negro que trás a estória de Jerry (William H. Macy), gerente da loja de carros
de seu sogro em Fargo, na Dakota do Norte. Metido em sérios problemas
financeiros, Jerry planeja o sequestro de sua própria esposa. Ele faz um acordo
com 2 marginais que devem simular o sequestro sem violência e de quebra
receberão um carro novo e U$ 40 mil. O resgate deverá ser financiado por seu sogro,
porém uma série de equívocos comprometem todo o planejamento, acarretando um
triplo homicídio. A cargo da investigação está a improvável chefe de polícia
grávida Marge Gunderson (Frances McDormand).
Fargo, assim como a maioria dos
filmes dos irmãos Coen é sensacional. As interpretações são ótimas e o enredo é
fantástico. Apesar do tema pesado e da violência, o filme tem doses exatas do
humor negro característico da dupla. Frances McDormand, que ganhou o Oscar de
melhor atriz por Fargo, consegue brilhantemente dar vida a uma heroína
totalmente improvável. Apesar das situações inusitadas, Fargo não é forçado e
nem exagera na dose e nenhum momento. Não há nenhuma explosão, perseguições de carro
inverossímeis ou o ápice do gran finale. Toda ação transcorre de maneira
totalmente natural. É um filme espetacular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário