quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Vira-lata 2, o Retorno

Em dezembro do ano passado, escrevi um post chamado Vira-lata (aqui), onde falava sobre a passagem do tenista suíço Roger Federer pelo Brasil e suas impressões a respeito.

Sou praticamente obrigado a voltar ao tema, pois está sendo realiazado em São Paulo, o Brasil Open de tenis, evento que acontece desde 2001 e faz parte dos torneios oficiais da ATP.

O que acontece agora, como o que já havia ocorrido na passagem de Federer por aqui, é que as instalações continuam a mesma porcaria, com o agravante de que naquela época já se sabia antecipadamente do calendário e obviamente todos tinham plena consciência de que o torneio estava chegando.

Claro que os organizadores não são de ferro e, como infelizmente grande parte dos brasileiros começam o ano após o carnaval. Sendo assim não deve ter dado tempo para que deixassem tudo nos conformes, até porque a coisa começou com o carnaval ainda rolando (no nordeste ainda deve estar rolando). 

É brincadeira esse tipo de coisa, o país quer passar uma imagem de que é capaz de receber grandes eventos internacionais, mas quando chega na hora H, a incompetência de sempre acaba reinando e nada sai 100%. Tudo fica meio capenga. Sempre é necessário fazer um remendo, como esse mostrado na foto abaixo, onde se utilizou o método de fixação das linhas errado na montagem da quadra:

Fiscais "arrumam" a linha da quadra utilizando recursos de última geração como prego e martelo. Foto Fernando Borges/Terra
  
Que coisa impressionante, não? Que papelão.

Os tenistas alemães Christopher Kas e Dustin Brown, que jogavam em dupla, se irritaram tanto com a péssima qualidade do local de jogo que proferiram alguns impropérios para se refeir ao mesmo, o que acabou lhes custando 1 ponto na partida.

Quem sabe algum deles deu uma "topada" na fitinha solta ou então acabou pisando no prego do conserto.

O gerente geral do Brasil Open, Roberto Burigo, deu uma explicação tipicamente brasileira e que explica perfeitamente tudo o que de errado acontece por aqui. Segundo ele "se as condições não estivessem jogáveis com certeza a ATP não permitiria que o jogo fosse iniciado". Ah bom. Assim está bem melhor. Se a quadra estiver "jogável" está valendo. Não precisa nem estar boa ou razoável, apenas jogável. Dá para fazer um paralelo com comida aqui. Imagine o seguinte diálogo entre o maître de um restaurante e algum cliente:

Cliente: - Maître, por favor, venha cá um instante.

Maître: -  Senhor?

Cliente: - Essa comida está uma porcaria, um verdadeiro lixo e ainda por cima é claramente perceptível que  foi utilizada carne de pescoço e não mignon como seria de se esperar. Essa comida foi "remendada".

Maître: - Permita-me discordar de sua observação, mas, embora o prato tenha sido remendado com outra carne que não a correta, ele está perfeitamente "comível", não fosse assim nosso chef não serviria!

Durante a tarde, um tenista espanhol tropeçou (por que será?) e acabou torcendo o tornozelo. Mais polido que seus colegas da Alemanha, ele considerou o fato uma fatalidade. Mas, outros tenistas consideraram que a causa do acidente foi a condição irregular do saibro. Irregular? O que quer dizer isso? Não entendo do assunto, mas acredito que a quadra deva ser (praticamente) lisa como um tapete e não cheia de irregularidades e buracos como a pista de testes da Volkswagen.

Armando de Fanti, gerente da Brascourt, empresa contratada pela Koch Tavares, promotora do Brasil Open, para montar as quadras saiu com a seguinte pérola deixando claro o nível de "excelência" do trabalho realizado: "Não vou dizer que está 100% porque nunca está, mas estamos fazendo o máximo possível para deixar melhor para os jogadores". Que história é essa de que nunca está 100%? Aposto que em Roland Garros, que tembém é disputado no saibro, sempre está 100%. Nunca está 100% aqui no bananão. Notem a segunda parte de sua resposta, onde ele afirma que estão fazendo o máximo para deixar melhor para os jogadores. Ou seja, vão resolvendo na base do improviso mesmo. Percebam que ele, em momento algum, usa o termo bom para se referir às condições das instalações, mas o termo "melhor". Ora, se a coisa é uma perfeita porcaria, qualquer coisa que se faça, por menor que seja, a deixará "melhor", certo?

Outras reclamações foram em relação à bola utilizada, muito pequena e que perde rapidamente os pelos que a recobrem, ficando parecida com um coco e de difícil controle por parte dos atletas, bem como em relação às adoráveis goteiras que apareceram durante os jogos para abrilhantar ainda mais o espetáculo.

Evidentemente que, para reforçar ainda mais o complexo de vira-lata natural do brasileiro, eis que surge um de nossos tenistas, para, com aquele misto de patriotada patética e indignação de botequim dizer que "ninguém é obrigado a ficar aqui e meter o pau na quadra" e que para ele a quadra estava "normal". Acho que ele quis dizer "jogável".

Mas não há de ser nada. Se as reclamações por parte dos tenistas estrangeiros continuarem, é só levá-los para conhecer algum "projeto social" em alguma favela ou se, apesar disso, a coisa ainda estiver feia, dá para levá-los (assim como com Roger Federer) às Cataratas do Iguaçu. Lá eles terão alguma coisa que funciona e certamente não estará remendada.

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