quinta-feira, 16 de maio de 2013

Somos Tão Jovens - Análise

Conforme falei ontem, hoje faço alguns rápidos comentários sobre o filme Somos Tão Jovens, do diretor Antonio Carlos da Fontoura.

Como todos já sabem, o filme é sobre Renato Russo, do Legião Urbana. Ao contrário do que muitos podem imaginar, aqui não se trata de uma cinebiografia abrangente de Renato Russo e do Legião Urbana, mas retrata um espaço de tempo bem definido entre seu despertar para a música, digamos assim, e o início da banda. O filme começa com Renato (Thiago Mendonça) sofrendo um acidente de bicicleta. Tal acidente o obriga a se submeter a uma cirurgia, o que se revela necessário, pois Renato, que na época ainda era Renato Manfredini, sofria de uma doença óssea rara, a epifisiólise, que o deixou "de molho", por um longo período. Durante esse tempo, Renato passa a se interessar ainda mais por rock. Toda sua recuperação bem como trajetória durante esse lapso temporal são acompanhados de perto por sua amiga Aninha (Laila Zaid). Sua perspectiva muda totalmente quando, depois de curado, tem contato com o punk rock, que dominava a cena inglesa da época. Aqui começa sua transformação de professor de inglês nerd para rockeiro punk. Ele aprende a tocar, se junta com alguns amigos e forma sua 1ª banda, o Aborto Elétrico, que era uma banda 100% punk. É correto se dizer que o Aborto Elétrico foi a gênese do Legião Urbana. Outras bandas da cena rocker de Brasilia também são rapidamente mostradas, como o Plebe Rude e, posteriormente, o Capital Inicial. Em busca de sua própria identidade pessoal e artística, Renato Russo parte do Aborto Elétrico para a carreira solo e mais tarde para a formação do Legião Urbana.

Resumidamente é isso.

O filme, apesar de algumas falhas, é muito bom. Acredito que muitas pessoas vão se lembrar daqueles tempos, da sua adolescência e juventude. Outros vão gostar de saber um pouco mais sobre o ídolo. Mas não é um filme apenas para fãs. As críticas na imprensa especializada são bem positivas no geral, mas praticamente todas apontam como falha grave a falta de ousadia e superficialidade. 

Isso se deve ao fato do tema sexualidade ou homossexualidade de Renato Russo não ser explorado profundamente no decorrer do filme. Pergunto, que diferença faz? A homossexualidade de Renato Russo é deixada bem clara, inclusive por ele, em algumas sequências. O que esperavam tais críticos? Cenas explícitas? Para que? Sua sexualidade é tratada de maneira sutil e não é, em momento algum, tema central. Não há porque misturar as coisas. O foco é o artista. O fato de ter sido gay não faz a mínima diferença.

Agora, outras críticas podem e devem ser feitas. O elenco. Com as exceções de Thiago Mendonça, que, apesar de não ser fisicamente parecido, encarnou brilhantemente Renato Russo, sem exageros e sem se tornar caricato e Laila Zaid, que interpretou muito bem a personagem Aninha, os outros atores tiveram atuações horrorosas. Muito ruins, mesmo se tratando de cinema nacional.

Aninha é uma personagem fictícia, sendo uma amálgama de várias amigas que Renato Russo teve ao longo de sua vida. Por falar em personagens, outro ponto fraco, é a maneira como alguns deles aparecem e somem sem maiores explicações e sem deixar claro sua importância. O ponto mais baixo em relação às personagens são os pais de Renato Russo, extremamente caricatos e que poderiam ter sido retirados de um subúrbio de novela para serem colocados ali.

Outro aspecto negativo é que a narrativa da ação transcorre de maneira episódica, em várias épocas diferentes e há um salto entre elas que nem sempre fica muito claro, tornando assim o filme carente de coesão.

Como parte do período em que se passa o filme ocorre durante a ditadura militar, o diretor não poderia deixar de traçar um retrato igualmente caricato e forçado dos militares. A música, mais precisamente o punk, era uma maneira de se rebelar e se expressar contra a repressão. Uma bobagem (nessa época a repressão de verdade já havia parado), que o próprio filme demonstra, deixando claro que os "rebeldes" não passavam de um bando de filhinhos-de-papai, que só eram rebeldes porque a condição que o pai "reacionário" lhes proporcionava assim o permitia, não tendo preocupações tipicamente pequeno-burguesas como trabalhar, pagar contas, etc.

Apesar dos deslizes apontados acima é um filme muito interessante e que merece ser visto sem resevas ou preconceitos, chegando a ser até emocionante em alguns momentos, sem apelar para a pieguice ou sentimentalismo barato.

Pode assistir sem medo, sendo ou não fã.

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