Tipinhos Imprestáveis II

Imagem retirada da internet

Apenas recentemente assisti a um filme que já deveria ter visto há um ano. Meia-noite em Paris, de Woody Allen. Geralmente gosto dos filmes dele e esse não foi exceção. É um filme diferente e muito legal. A história é a respeito de Gil (Owen Wilson), um escritor de roteiros de Holywood que está terminando seu primeiro romance. Ele se encontra em Paris acompanhado da noiva e seus pais (todos devidamente caracterizados como consumistas imbecis), e toda noite à meia-noite, é pego por um táxi antigo que o leva à Paris dos anos 20, onde convive com figuras históricas das artes, como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Pablo Picasso, Cole Porter, Salvador Dali e outros. 

Não se preocupe que não vou ficar aqui falando do filme em si (que é muito legal, assista!), mas de um determinado personagem que se encaixa como uma luva em minha série de posts sobre “Tipinhos Imprestáveis”. 

O personagem é Paul, vivido pelo excelente Michael Sheen (A Rainha e Frost/Nixon). Na trama, Paul é amigo íntimo de Inez, a noiva demente de Gil, e uma das pessoas mais detestáveis que você pode ter o azar de encontrar: o sabe-tudo. 

No filme, Paul é um pseudointelectual de orelha de livro, que é especialista em quase tudo que você possa imaginar: desde vinhos franceses até pintura expressionista. É um chato!

Pegando esse gancho, resolvi falar hoje sobre esse tipinho insuportável. Aposto que todos nós temos o desprazer de conhecer pelo menos uma pessoa assim.

Eu conheço mais do que uma, pode apostar.

O problema aqui não é a pessoa ter assuntos de seu interesse e estudá-los, mas sim achar que entende de inúmeros assuntos e dedicar nenhuma ou quase nenhuma atenção a eles, embora  emita sua “abalizada” opinião, como verdadeiro especialista.

Nesse caso o que é extremamente irritante é que o sabe-tudo nunca sabe quase nada. 

O cara do filme tinha algum conhecimento, provavelmente dava uma rápida estudada no assunto escolhido para amolar os outros antes de encontrá-los, mas isso é no filme.

No mundo real o sabe-tudo não estuda nada. O parco conhecimento que tem é tão profundo quanto um espelho d’água. É o famoso cara que lê a orelha do livro e mente que leu o livro inteiro.

Até daria para dar ao sabe-tudo um pequeno crédito por se interessar por algum assunto pouco usual, mas acontece que ele só faz isso para poder ficar “dando aulas” aos pobres “ignorantes” que nada sabem.

Esse é o X da questão. O sabe-tudo quer sempre dar aula e ficar fazendo proselitismo barato com sua “alta cultura e intelectualidade superior”.

Sim, ele se considera um intelectual, mesmo sendo, quando muito, um intelectualóide dos mais rasteiros.

Você pode me perguntar se é possível haver alguém com vários interesses em várias áreas distintas e estudá-los ao ponto de se tornar um especialista, ou pelo menos um grande conhecedor em todas elas. Garanto que impossível não é, mas acho muito difícil. 

Quantas pessoas você consegue me dizer, agora, que são profundos conhecedores de cinema, pintura, música e literatura, para ficar apenas no campo das artes?

Eu só consigo pensar em 1, e que já morreu há mais de 15 anos.

Mas então como, se é tão difícil ter conhecimento profundo em várias áreas, o sabe-tudo nunca é desmascarado ou exposto em sua impostura?!

Simples, ele conta, e com razão, com a ignorância e desinteresse da disparada maioria das pessoas por assuntos minimamente mais complexos ou que fujam do que passa na TV.

E não estou me referindo apenas ao Brasil. Isso é geral.

O sabe-tudo nunca vai querer bancar o gostosão falando de novela, fofoca de artistas ou futebol. Isso, além de mundano, é matéria que qualquer Zé-ruela domina. Não. O sabe-tudo só se interessa por assuntos que fogem a compreensão do homem comum. Essa é sua vantagem estratégica.

Evidentemente que ele sempre vai ser tachado de chato, metido a besta e tal, mas para ele até compensa, pois a maioria da massa ignara vai achá-lo também extremamente inteligente.  

  

Esse é seu real objetivo. Ser o mais esperto, mais inteligente e o mais culto da turma, usando para isso seu pseudoconhecimento e ignorância dos demais.

Normalmente ele consegue ser bem sucedido com alguma facilidade, dado ao estrondoso número de pessoas imbecilizadas que habitam nosso mundinho.

Com esse cara não tem acordo. Mesmo que você esteja com a razão ele nunca vai dar o braço a torcer. Esqueça.