Autêntico vira-lata (foto por K. Siqueira retirada da internet) |
Como já devem saber, o tenista suíço
Roger Federer estava em terras tupiniquins para uma série de jogos de
exibição para mostrar como ele é bom.
Os jogos ocorreram na estrutura
do Ibirapuera em São Paulo. Leio que Federer se referiu às instalações como “um
pouco velhas”. Pois bem, se você levar em consideração que Federer é europeu e
é da Suíça, podemos entender sua fala no sentido figurado.
Evidentemente Federer foi muito
educado e cortês com seus anfitriões, pois certamente o que ele quis realmente dizer
é que a estrutura é uma porcaria, está caindo aos pedaços e sem a menor condição de
receber nada além de um aterro sanitário.
Logo que li a matéria me veio à
mente a tão manjada questão do complexo de vira-lata do brasileiro. É a mais
pura verdade. Acontece que tal complexo pode se apresentar literalmente ou de
maneira invertida.
Como assim?
Explico: a maneira literal/tradicional
e na qual o brasileiro é mestre absoluto, é aquela em que tudo que vem de fora é
melhor do que o que se tem disponível por aqui. Não chega a ser uma total inverdade,
principalmente se aplicarmos em relação a produtos e serviços.
Vejamos a explicação nas palavras
de quem cunhou o termo, o dramaturgo Nelson Rodrigues:
“por 'complexo de vira-lata'
entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em
face do resto do mundo”.
Ainda segundo Nelson Rodrigues:
“o brasileiro é um narciso às
avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos
pessoais ou históricos para a autoestima”.
A maneira invertida de aplicação
do complexo é justamente essa do exemplo aí de cima de Federer. Soma-se o
nacionalismo mais rasteiro com o ufanismo mais bocó a todas as porcarias que
temos para exibir e pronto: você tem o complexo de vira-latas ao contrário.
Esse caso da visita de Roger
Federer ilustra isso perfeitamente bem. Além de oferecerem instalações caindo
aos pedaços, levam o cara para conhecer tudo que não deveria ser motivo de
orgulho para povo nenhum, de qualquer país.
Quer um exemplo?
Em outra reportagem a respeito da
presença de Federer, esse afirmou que o ponto alto de sua estada tinha sido uma
visita à favela de Paraisópolis, onde assistiu a final do campeonato de futsal
infantil.
Não posso acreditar que o ponto
alto de uma viagem de qualquer pessoa seja visitar uma favela. Claro que
estrangeiros adoram visitar favelas. Devem achar uma coisa pitoresca,
diferente. É muito fácil gostar de
favela quando não é preciso morar nela e nem perto dela.
Na última tarde de Federer em
terras brasileiras ele vai conhecer as Cataratas do Iguaçu – esse sim, motivo
de orgulho e algo em que somos insuperáveis (nossas cataratas ganham de lavada
de Niagara. Já estive lá e sei disso. Não tem nenhuma comparação) – antes de
seguir seu tour pela America Latina com próxima parada em Buenos Aires.
Na verdade a culpa não é de
Federer. A culpa é de quem trás esses estrangeiros de renome para cá, cobra alto
para exibí-los (os ingressos para as exibições de Federer custavam até R$
990,00) e depois levam o cara para visitar favela e jogar em locais sem a
mínima infraestrutura. E Federer ainda tem que achar tudo muito bom e bonito.
No fundo o Brasil quer ser
reconhecido como uma grande nação que está de igual para igual com as mais
desenvolvidas (que piada) e dói nos brasileiros que o país ainda seja
confundido com a Bolívia (como fez Ronald Reagan) ou que apesar de ser uma
enorme nação, não seja visto como um país sério (como fez Charles De Gaulle). Você
vai argumentar comigo que isso é coisa antiga, que não é mais assim, que na
atualidade o Brasil é visto como um “player” importante, mas ainda hoje vemos
em todos os filmes e seriados estrangeiros que no Brasil fala-se espanhol.
Isso tudo só vem a corroborar o
que disse anteriormente. O Brasil quer ser visto como grande, desenvolvido e
sofisticado, mas fica exportando favela, carnaval e mais o que tiver de pior
por aqui. Lembrem-se da apresentação do Comitê Olímpico Brasileiro na festa de
encerramento da Olimpíada de Londres. O que mostramos? Um gari como
representante, um monte de mulatas semi nuas sambando e Ivete Sangalo. Só faltou
o Didi. Para tentar “salvar” do vexame absoluto chamaram o Pelé, nossa figura
mais ilustre. Tomara que Pelé não morra nunca, porque há mais de 50 anos
recorremos a ele quando a coisa aperta.
E o Brasil ainda quer ser o país
do futuro. Que tal tentar ser o país do presente?! Já está de bom tamanho.
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