quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Música e Cigarro



Semana passada li um artigo sensacional e muito bem escrito no UOL (o que é uma raridade em se tratando desses portais de internet), sobre os 20 anos do Hollywood Rock 93, que é considerada uma edição histórica do festival.

Hollywood Rock Logo
Se você nunca se interessou pelo assunto ou era muito novo e não se lembra de nada, o Hollywood Rock foi um festival de Rock que aconteceu entre 1988 e 1996 (excetuando os anos de 1989 e 1991), sendo sempre realizado nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro com os mesmos artistas tocando em ambas as cidades.

O que, segundo o artigo, tornou o de 93 tão emblemático foi o fato de que pela 1ª vez no cenário nacional, nomes que estavam no auge da carreira tocaram aqui. Tanto é assim que os shows nas duas cidades tiveram todos os ingressos esgotados. É claro que já havia tido outros shows incríveis com nomes internacionais como o Rock in Rio original, mas eram artistas com vários anos de estrada e que não estavam exatamente no auge da fama na época.

Ainda, de acordo com o artigo, outro fator importante dessa edição do festival foram os nomes que se apresentaram, como Red Hot Chilli Peppers, Alice in Chains L7 e Nirvana. Aqui chegamos ao cerne da questão, pois nessas apresentações o Nirvana deu um show a parte. Ou um perfeito papelão, depende de sua análise. Parece que o falecido Kurt Cobain estava entupido de drogas e álcool e fez tudo errado. Não conseguia tocar nada direito e ainda por cima cuspiu em todas as câmeras que encontrou (a Globo transmitiu ao vivo o show de São Paulo). Hoje, essa apresentação do Nirvana é considerada como um marco da rebeldia por uns e um lixo total por outros. Se quiser saber mais clique no link e confira a belíssima reportagem de Mariana Tramontina com muito mais detalhes.

“Mas para que tudo isso? Por um acaso você é fã desses caras?” Você deve estar se perguntando.

Na verdade não só não sou fã, como acho o som de todos os acima citados muito ruim, o que acontece aqui é outra coisa.

Achei o artigo que cito acima muito interessante, o que me levou a observar 2 coisas distintas e sem nenhuma relação entre si, mas que me vieram a mente assim que terminei de lê-lo:

 - Outro dia, estava discutindo com um primo e ele me contava que havia chegado à conclusão de que o Nirvana, U2 e The Doors eram as bandas mais superestimadas de todos os tempos, o que concordo plenamente.

Desses 3, quero falar justamente do Nirvana. Nunca vi e não entendo até hoje, como uma bandinha tão ordinária como essa tem toda uma mística em torno de si. Para mim, que era adolescente na época, era o típico muito barulho por nada. Os caras não eram grandes músicos e as músicas não eram grande coisa. Não me entra na cabeça como esses caras são idolatrados até hoje. E, às vezes, colocados lado a lado com nomes realmente importantes. Acho que é típico caso de quando morre o front man do grupo e, instantaneamente, o cara, que até então era só mais um rockeiro drogado meia-boca, passa a condição de semi-deus e a banda passa a ser cult. Uma bobagem sem tamanho. O pior é que esse caso não é nem original. Já aconteceu antes. Quantos casos de nomes famosos que ganharam muito mais notoriedade e dimensão depois que morreram?

 - Depois de ler sobre o Hollywood Rock, imediatamente me lembrei de outro festival de música muito mais interessante e que também tinha, tanto no nome como no patrocínio uma marca de cigarro: o Free Jazz Festival.

Free Jazz Festival Logo
O Free Jazz não tem relação com o estilo Free Jazz (estilo de Jazz oriundo do Bebop, que propunha maior liberdade e capacidade de improvisação dos músicos e que teve como um dos adeptos John Coltrane), mas sim com a marca de cigarros patrocinadora. Foi realizado ininterruptamente entre 1985 e 2001.

Apesar de ter Jazz no nome, o festival sempre trouxe artistas de outras correntes. Mesmo assim não foram poucos os artistas do Jazz que chegaram a se apresentar por aqui, inclusive vários consagrados como Sonny Rollins, Chet Baker, Wynton Marsalis, Ron Carter, Sarah Vaughan entre outros.

O Jazz não é um ritmo muito difundido e nem muito apreciado pelo brasileiro, tornando assim o Free Jazz ainda mais importante, pois era uma chance de assistir vários grandes artistas reunidos em um único local.

O Free Jazz esteve uma única vez aqui em Curitiba. Foi em 1998. Me lembro de ter ido com meu irmão e mais 2 amigos que também são apreciadores. Nosso único interesse nessa ocasião era ver ao vivo o lendário saxofonista Wayne Shorter. Nessa mesma noite, se apresentou no mesmo local Ben Harper. A apresentação de Wayne Shorter foi antes da do Ben Harper, e como era em teatro com lugares marcados, um monte de gente chegou apenas para assistir o show de Ben Harper, ignorando solenemente Wayne Shorter, acredita?! Nós, ao contrário, fomos embora assim que Ben Harper subiu ao palco. Foi uma única vez, mas valeu. Depois o Free Jazz não retornou mais a Curitiba e 3 anos depois não retornou mais a lugar algum.

Em janeiro de 2003 entrou em vigor uma lei antitabagismo estúpida, proibindo que empresas de tabaco patrocinassem eventos culturais. O que acharam? Que só porque alguém ia ao Hollywood Rock ou ao Free Jazz, ia sair dali um fumante inveterado?

Não sou fumante nem defensor do cigarro, mas achar que a simples exposição das pessoas à marca vai influenciá-las a consumir o produto é uma estupidez. Se fosse assim todo mundo passava o dia bebendo Coca-Cola.

Enfim, só acho isso tudo uma pena, pois quem sabe quantos outros eventos ou artistas interessantes poderiam ter vindo antes para cá?




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