segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

On the Road


Admito que nessas férias tenho assistido muitos filmes, o que, aliás costumo fazer com frequência quando saio de férias.

Ontem assisti ao filme On the Road (acho que o título em português é Na Estrada), do diretor brasileiro Walter Salles. O filme, para quem não sabe, é baseado no romance homônimo e claramente autobiográfico do escritor americano Jack Kerouac.

Alguém aí já leu? Comprei esse livro há mais de 10 anos atrás e não consegui lê-lo inteiro. Acho que nem cheguei à metade. Não consegui ter empatia por nenhum dos personagens. É possível ter alguma leitura minimamente satisfatória sem sentir empatia pelos protagonistas?

Assim, quando saiu o filme, fiz questão de assistir. Sempre quis entender a importância e dimensão que dão ao livro e achei que com o filme conseguiria.

Antes de fazer algumas considerações a respeito, vou fazer um breve resumo do filme em si. Se você ainda não assistiu nem leu o livro e tem interesse em fazê-lo, então é melhor parar de ler, pois vou resumir o filme e contar seu final, que é fundamental para que se possa entender a coisa.

O filme basicamente mostra um período de uns 2 anos na vida de Dean e Sal no final dos anos 40 e começo dos 50. Dean é um bêbado imprestável completamente irresponsável e inconsequente. Sal, que é escritor, também é, porém um pouco menos, mas por outros motivos. Dean e Sal passam o filme todo bebendo, se drogando e viajando.

A história começa quando Sal e Dean se conhecem, logo após a morte do pai de Sal. Isso é um componente muito importante na história, embora tenha sido pouco aprofundado. Entendi que a perda do pai foi um episódio importante na vida de Sal. Foi o que deu o start para sua jornada de excessos em busca de algo que nem ele sabia bem o que era. No final a gente entende que na verdade, o que ele busca, é sua própria identidade. Parece idiota, piegas e clichê, mas não é. Nem um pouco. Nem de longe.

Quando não estão juntos na estrada, Sal e Dean, estão indo um a procura do outro. Nessa, eles acabam cruzando o país pelo menos 2 vezes. Nessas viagens outros personagens secundários aparecem, como outros amigos dos caras, Carlo, Ed, Bull e as garotas Marylou, Camille e Terry, que acabam se envolvendo com Sal e Dean. O fato mais relevante aqui é que Sal acaba gostando mais do que devia de Marylou que é a namorada favorita de Dean.

Outro fator interessante e fundamental para se entender corretamente o filme é a conversa entre Sal e Bull, onde esse alerta Sal que Dean é um egoísta autodestrutivo que exige tudo de quem o cerca e não oferece nada em troca.

Nessa jornada sem destino (nenhuma referência aqui ao filme Easy Rider), Dean, Sal e qualquer um que os acompanhe vão indo sem motivo nem objetivo algum, tanto é que quando finalmente chegam onde queriam, tratam de voltar para seu local de origem. A parte boa, é que a viagem se dá na maior parte do tempo a bordo de um Hudson 1948 muito legal e sempre em alta velocidade. Dean só dirige no pau. Durante todo o trajeto que fazem, Sal vai tomando notas de tudo que experimenta para escrever seu livro.

Quando finalmente retornam a Nova Iorque, seu ponto de partida, Sal, que ainda não conseguiu escrever uma linha sequer, resolve ir até o México. Dean acaba indo com ele, dessa vez a bordo de um Ford 46. No México eles acabam cometendo os maiores excessos com bebidas, drogas e prostitutas mexicanas da pior estirpe. Aqui, Sal acaba ficando muito doente. Dean, como havia alertado Bull, volta para os EUA para resolver seu divórcio com Camille e larga Sal na roubada, doente e sem dinheiro, em algum buraco mexicano esquecido por Deus.

Uns meses depois, Dean procura Sal novamente, sendo que Dean se apresenta totalmente estropiado pelo abuso de álcool e drogas. Nesse momento Sal está de saída para uma apresentação de Jazz (a trilha sonora é demais, com Jazz da melhor qualidade o tempo todo). É claro que depois de abandonado por Dean no México, Sal não é mais o mesmo. Ele descarta Dean prontamente, se dando seu segundo start fundamental. A partir da ruptura com Dean ele finalmente consegue escrever. Aqui termina o filme.

Agora, por que motivos esse livro foi tão importante e desencadeou todo um movimento cultural nos anos 50 – o movimento Beatnick?!

Os EUA não passava por nenhuma turbulência nessa época. A não ser que a gente considere que a narrativa remonta a 1947, apenas 2 anos após o fim da Segunda Guerra. Sempre que acaba um período de alta tensão como é um período de guerra, abre-se espaço para os excessos. Foi assim nos chamados “Loucos Anos 20”, também período pós-guerra e talvez tenha sido o caso aqui.

Li uma vez, uma opinião do saudoso Paulo Francis, em que ele sustentava que o fato de que, quando Kennedy e Khrushchov chegaram a uma solução pacífica para a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, o resto do mundo pôde respirar aliviado. Todos teriam entendido que o  fim do mundo, através de uma guerra nuclear não era inevitável, dando início aos excessos dos anos 60. Discordo humildemente de Francis, entendendo que a coisa é um pouco mais antiga.

Não sei se alguém vai concordar comigo, mas foi aqui, com esse livro e seus desdobramentos culturais e comportamentais que foi aberta a caixa de Pandora da contracultura, contestação e todas as correntes ideológicas e sociais que chegariam à maturidade nos anos 60.

O que vivemos hoje, para o bem e para o mal, é consequência direta desses movimentos culturais, e, na minha modesta opinião, esse terreno começou a ser arado com a publicação de On the Road em 1957.   
  
O que você acha?

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