quarta-feira, 3 de abril de 2013

Brasil, um País de Tolos!

Já percebeu que, os canais de TV por assinatura, começaram, aparentemente sem mais nem menos, a exibir programas com conteúdo nacional? Não? Se sim, o que achou da novidade? Aposto que tem gente que gostou e outros que detestaram. Não é questão de preconceito com o conteúdo nacional ou o velho complexo de vira-lata do brasileiro. A questão aqui é o porquê de agora esses programas estarem no ar. 

Seria um reconhecimento ao talento dos produtores brasileiros e suas obras? Finalmente o telespectador estaria dando o merecido valor à produção nacional e deixando de lado velhos preconceitos? Ou seria outra, a real razão desses programas estarem sendo exibidos em horário nobre?

Já chego lá.

Antes, gostaria de dar como exemplo, 2 desses programas que estão indo ao ar em canais distintos e com propostas totalmente diferentes um do outro. Um está sendo exibido no Warner Channel e o outro no History Channel. Assim como os programas, seus respectivos canais de transmissão também são bem diferentes entre si. No Warner, está indo ao ar um programa chamado Vida de Estagiário. É para ser uma sitcom nos moldes nos tão odiados - por alguns - enlatados americanos, tratando do dia a dia de um estagiário em uma grande agência de publicidade. Acontece que é feito no Brasil. Aí é que a coisa complica. Assista o trailer e diga o que achou. Ridículo, não? Mal feito, chato, bobo e forçado ao máximo, com personagens caricatos e humor pastelão. 

Não que seja impossível fazer algo bem feito por aqui. Quem assistiu às séries Filhos do Carnaval e Mandrake, que passaram na HBO, sabe que dá sim para se fazer coisas interessantes com ótima qualidade, como bem demonstra o outro programa que citarei.

O outro programa é exibido pelo History e chama-se CAOS (com o último S ao contrário). Diferentemente de Vida de Estagiério, é bem feito, interessante e tem uma proposta totalmente diferente. Aqui, é contada a rotina da CAOS. CAOS é uma loja/sebo/brexó/mercado de pulgas localizada na Rua Augusta em SP e que é tocada por Tibira e sua amiga Carrô. Durante o dia, a loja funciona normalmente, com pessoas comprando e vendendo praticamente de tudo, desde discos de vinil de novelas até móveis antigos. À noite, CAOS vira balada, bazar, ponto de encontro, etc. Confira aqui um trecho do 1º episódio que foi ao ar. Que tal? Sem comparação com Vida de Estagiário, certo? Muito mais bem feito, melhor produzido e com uma temática muito mais interessante e rica.

Agora a verdade. Por que, afinal de contas, os canais pagos estão exibindo esses programas? Simples. Porque são obrigados. Isso mesmo. Os canais estão sendo obrigados por lei a exibir conteúdo nacional.

Se não acredita em mim leia aqui a íntegra da Lei 12.485/2011. 

É mais uma vez o estado se metendo onde não é chamado e querendo definir o que as pessoas devem assistir, restringindo em doses homeopáticas nossos direitos e liberdades.

A referida lei, entre outras coisas, dispõe sobre a obrigatoriedade da veiculação de conteúdo nacional na grade de programação das TVs por assinatura. Estão desobrigados dessa ingerência os canais esportivos e de jornalismo. Todos os outros devem passar, por enquanto, um mínimo de 2hrs e 20 min semanais de conteúdo nacional. E a coisa não para por aí. Tal conteúdo não pode ser transmitido no horário que a direção do canal julgar o mais adequado. Deve ser exibido em horário nobre, que, segundo os critérios adotados vai das 18 às 24 horas. Legal hein? Tudo isso, devidamente "patrocinado" pela Ancine (Agência Nacional de Cinema), ou seja, com o dinheiro público.

De acordo com a Ancine, tal lei foi discutida durante 5 anos, em um processo no qual todos os interessados foram ouvidos pelos representantes do povo brasileiro. Que diabos isso quer dizer? Eu sou um interessado no assunto. Assino TV mas não fui consultado. Ah, já sei! Os interessados devem ser as empresas que produzem audiovisual, quem vai exibir, quem vai atuar, sindicatos etc. Então me encaixo do outro lado. No povo brasileiro. Da mesma maneira não fui ouvido. Aliás, ninguém que conheço jamais foi ouvido nessas questões que envolvem "representantes da sociedade civil". Acho que entendi essa também. Fala-se aí em "representantes" do povo brasileiro. Então devem ser os nobres deputados que são por nós eleitos para nos representarem. Agora faz sentido.

Ainda, segundo a Ancine, um dos objetivos da lei é "aumentar a produção e a circulação de conteúdo audiovisual brasileiro, diversificado e de qualidade, gerando emprego, renda, royalties, mais profissionalismo e o fortalecimento da cultura nacional". Preste atenção neste trecho: "... gerando emprego, renda royalties...". Emprego, renda e royalties para quem mesmo? Ah, claro. Para os apadrinhados e para a turminha de sempre, que tem seus filmes que ninguém assiste financiados com dinheiro público que, mesmo sem apresentar qualquer resultado positivo, servem-se descaradamente e novamente de mais dinheiro público para financiar outros filmes que ninguém vai assistir.

Quer um exemplo? Ano passado, o cinema brasileiro lançou 82 títulos. Desses, apenas 3 ultrapassaram a marca de 1 milhões de espectadores: as comédias "E aí, comeu?", "Até que a sorte nos separe" e " Os Penetras". Ótimo resultado, sem dúvida. Acontece que das 82 produções, 11 não chegaram à 1.000 espectadores. O filme "Expedicionários" não chegou a 100 espectadores, ficando em 98. 

Os casos mais escabrosos são dos filmes financiados pelo Ministério da Cultura para os mega-devedores clubes de futebol. Segundo a Ancine, o filme "Santos. 100 Anos de Futebol-Arte" foi agraciado com R$ 1,2 milhão, porém teve apenas 691 espectadores, o que lhe garantiu a renda pífia de R$ 7.719. O problema é que a mesma produtora, a Canal Azul, já havia recebido anteriormente R$ 2,2 milhões para realizar o filme "Todo Poderoso. O Filme. 100 Anos de Timão", sobre o Corinthians, sendo visto por 1.437 pessoas e arrecadando apenas R$ 16.505. Agora, o Ministério da Cultura, sob a regência da "genial" Marta Suplicy já liberou R$ 2,3 milhões para um filme sobre o Palmeiras. Nada contra o futebol ou os times mencionados. Aqui a questão é outra. Poderia ser qualquer assunto que seria absurdo igual. Como você notou, uma mesma produtora, que foi financiada com dinheiro público, mesmo tendo produzido um imenso fracasso que não chegou nem perto de cobrir seu custo, foi agraciada novamente com mais dinheiro público para produzir novo fracasso. É brincadeira. E isso acontece constantemente. Ao que tudo indica, a única exigência para se conseguiu a grana dos contribuintes é fazer parte da panelinha. Então fica tranquilo. Tem financiamento de sobra e não precisa prestar contas e nem apresentar resultados positivos. Se o filme fracassar, paciência. Culpa dos espectadores que não entenderam a grandeza da obra ou então dos malvados exibidores que disponibilizaram um número muito pequeno se salas de cinema. 

Imagine se isso aconteceria em um país civilizado.

Voltando aos canais pagos com conteúdo obrigatório, a meta do governo é que, dentro de 3 anos, a exibição de conteúdo nacional seja no mínimo de 3hrs e 30 minutos semanais, sempre em horário nobre, é claro. Vamos chegar a um ponto onde não vai adiantar nem mudar o canal, pois no outro também estará passando alguma porcaria.

É claro que existe uma chance remota de que mais produções de boa qualidade como o CAOS sejam exibidas, mas a probabilidade maior é de que o nível seja baixo e a qualidade duvidosa como a de Vida de Estagiário. 

O que você acha?


 

2 comentários:

  1. Ricardo:
    Muito bom o texto cara,adoro o CAOS(com o último S ao contrário),vai todo o tipo de gente lá,colecionadores ,e pessoas de todos os estilos,gosto muito do jeito e estilo dos proprietários.
    Vida de estagiario nem vou comentar,patético,minha opinião é claro.
    Mas ótimo texto.

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  2. Como assim "o ÚLTIMO S ao contrário? A palavra CAOS só tem UM S, haha.
    Brincadeiras à parte, gostei da informação, da visão e, principalmente, da forma como foi tudo colocado no texto.
    Não conheço "Caos", mas "Vida de Estagiário" é um convite ao zap...

    Patricia.

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