quinta-feira, 14 de março de 2013

O Novo Papa

Tenho lido, visto e ouvido um monte de asneiras sobre a eleição do novo Papa e muito pouca coisa concreta sobre quem é o homem que agora será conhecido como Francisco.

No UOL, uma reportagem onde vários famosos dão sua opinião, falando obviamente um monte de besteiras, sobre um assunto do qual não tem nenhum domínio e nem idéia da dimensão de tudo isso. Em todo canto se diz que a igreja está ultrapassada, que não tem mais importância, que ninguém liga para isso hoje em dia, que é coisa de fanáticos, etc., no entanto, o mundo parou para ver quem seria o novo Papa. 

Assim que foi divulgado quem era, ao invés de esclarecer e informar corretamente o público, a imprensa resumuiu o assunto a um cardeal argentino chamado Jorge Mario Bergoglio, arcebisbo de Buenos Aires. As informações complementares diziam que Bergoglio é da ordem dos Jesuítas (1º Papa Jesuíta) e que adotou o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis. Evidentemente que já está sendo chamado de Chico.

A outra informação que chega é a de que,um jornalista argentino chamado Horacio Verbitsky o acusa de ter  contribuído para a prisão, em 1976, de 2 jesuítas que trabalhavam sob seu comando. Essa informação está repercutindo muito, como não poderia deixar de ser, nas redes sociais, onde praticamente todo mundo embarca bovinamente na onda dos boatos sem se preocupar em apurar ou conhecer melhor os fatos. Acontece que não há nenhuma prova nem indício da participação de Bergoglio no tal sequestro e que esse Horacio Verbitsky que é considerado fonte de informações fidedignas, é um puxa-saco abjeto do regime de Cristina Kirchner, do qual Bergoglio é opositor declarado. 

Além disso, Verbitsky era membro do grupo terrorista argentino Motoneros na década de 70, acusado de participar de um atentado que matou 21 pessoas em 1976 (aqui) e (aqui). É também acusado pelo jornalista argentino Carlos Manoel Acuña em seu livro “Verbitsky — De la Habana a la Fundación Ford”, de repassar para o governo cubano U$ 60 milhões provenientes do sequestro dos irmãos Born (Jorge e Juan), capturados por seu grupo em 75 e libertados apenas em 76. 

Aqui no bananão, evidentemente, ele também está sendo considerado um "respeitado jornalista". 

Se você tiver interesse (e paciência) e quiser saber mais sobre quem é o novo Papa, aqui abaixo um perfil de Jorge Mario Bergoglio, escrito pelo jornalista americano John Allen Jr., que publicou dia 10 deste mês os perfis dos principais candidatos a Papa:


Nascido em Buenos Aires, em 1936, Bergoglio é filho de um ferroviário que emigrou de Turim, na Itália, para a Argentina, onde teve cinco filhos. O plano original do cardeal era ser químico, mas, em vez disso, ele ingressou em 1958 na Companhia de Jesus para começar os estudos preparatórios para a ordenação sacerdotal. Passou boa parte do início da carreira lecionando Literatura, Psicologia e Filosofia, e muito cedo era visto como uma estrela em ascensão. De 1973 a 1979 foi provincial dos jesuítas na Argentina.


Depois disso, em 1980, tornou-se o reitor do seminário no qual havia se formado. Eram os anos do regime militar na Argentina, quando muitos sacerdotes, incluindo líderes jesuítas, gravitavam em torno do movimento progressista da Teologia da Libertação. Como provincial jesuíta, Bergoglio insistiu em um mergulho mais profundo na tradição espiritual de Santo Inácio de Loyola, ordenando que os jesuítas continuassem seu trabalho nas paróquias e atuassem como vigários em vez de se meterem em “comunidades de base” e ativismo político.


Embora os jesuítas sejam, em geral, desencorajados de receber honrarias eclesiásticas, especialmente fora de seus países, Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992, e depois sucedeu o adoentado cardeal Antonio Quarracino, em 1998. João Paulo II fez Bergoglio cardeal em 2001, designando-lhe a igreja romana que leva o nome do lendário jesuíta São Roberto Belarmino.


Ao longo dos anos, Bergoglio se aproximou tanto do movimento Comunhão e Libertação, fundado pelo padre italiano Luigi Giussani, que às vezes discursava no grande encontro anual do grupo, em Rimini, na Itália. Ele também chegou a divulgar os livros de Giussani em feiras literárias na Argentina. Isso acabou gerando consternação entre os jesuítas, uma vez que os ciellini, como são chamados os adeptos do movimento, já eram vistos com os principais opositores do colega jesuíta de Bergoglio em Milão, o cardeal Carlo Maria Martini. Por outro lado, isso tudo é parte do apelo de Bergoglio, um homem que pessoalmente se divide entre os jesuítas e os ciellini e, em maior escala, entre os reformistas e os ortodoxos da Igreja.


Bergoglio apoiou o ethos de justiça social do catolicismo latino-americano, inclusive com robusta defesa dos pobres. “Vivemos na parte mais desigual do mundo, que tem crescido muito, mas que pouco tem feito para reduzir a miséria”, afirmou ele durante um encontro do episcopado latino-americano em 2007. “A injusta distribuição de renda persiste, criando uma situação de pecado social que clama aos céus e que limita as possibilidades de uma vida plena para muitos de nossos irmãos.” Ao mesmo tempo, ele tende mais a se empenhar pelo crescimento em graça pessoal do que por reformas estruturais.


Bergoglio é visto como um ortodoxo inflexível em matéria de moral sexual e como convicto opositor do aborto, da união homossexual e da contracepção. Em 2010 ele afirmou que a adoção de crianças por gays é uma forma de discriminação contra as crianças, o que lhe valeu uma reprimenda pública por parte da presidente argentina Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo, ele demonstra sempre profunda compaixão pelas vítimas da aids; em 2001, por exemplo, visitou um sanatório para lavar e beijar os pés de 12 pacientes soropositivos.


Bergoglio também marca pontos por sua apaixonada reposta ao atentado a bomba ocorrido em 1994 no prédio de sete andares que abrigava a Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires. Foi um dos maiores ataques a alvos judeus já registrados na América Latina e, em 2005, o rabino Joseph Ehrenkranz, do Centro para a Compreensão Judaico-Cristã, ligado à Universidade do Sagrado Coração em Fairfield, no estado norte-americano de Connecticut, louvou a liderança de Bergoglio para superar a dor do episódio. “Ele estava muito preocupado com o que havia ocorrido”, disse Ehrenkranz. “Tinha vivido a experiência.”

Bergoglio pode ser fundamentalmente conservador em muitas questões, mas não é um defensor dos privilégios do clero ou um homem insensível às realidades pastorais. Em setembro de 2012, ele disparou um ataque contra os padres que se negavam a batizar crianças nascidas fora do casamento, classificando a recusa como uma forma de “neoclericalismo rigoroso e hipócrita”.

John Allen Jr. é um dos mais experientes vaticanistas da atualidade. Jornalista do site norte-americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/), ele também colabora com o canal de televisão CNN e com a National Public Radio norte-americana. Allen é autor de vários livros sobre a Igreja Católica, incluindo duas biografias de Bento XVI, uma delas escrita quando Joseph Ratzinger ainda era cardeal. Duas de suas obras foram traduzidas para o português: Opus Dei, mitos e realidade, de 2005, e Conclave, de 2002, em que ele descreve os rituais que envolvem a sucessão do papa e apontava vários favoritos para assumir o posto após a morte de João Paulo II.

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